Borda infinita nos convoca para o diálogo (tenso, complexo, mas incontornável) entre a ordem visível e a força invisível que a sustenta. É uma das questões centrais da obra de José Enrique Barreiro: a relação inseparável entre a imanência e a transcendência, instâncias, para ele, não apartadas nem incomunicáveis, mas unidas em uma mesma existência.

Livre para ultrapassar os limites do campo histórico-cultural e se expandir para planos mais amplos de compreensão da vida, Barreiro circula, também com liberdade, por distintas formas literárias. Nas “Notas de uma poética pessoal”, que escreveu para seu site, revela o que pode ser a chave dessa versatilidade formal: “Meu movimento é o poema, e o poema impõe sua própria linguagem”.

Poetas versáteis correm o risco de não dominar os desafios da diversidade. Não é o caso do autor deste Borda infinita, que percorre vários estilos com uma voz única, presente nas duas partes do livro: na primeira (“o traço indistinto”), expressa a unidade do ser e o drama da passagem do tempo em poemas de forte expressividade interior; na segunda (“outros touros”), volta-se para a multiplicidade do mundo, o ambiente exterior, com reflexões sobre a arte e com o enfrentamento, muitas vezes irreverente, do tempo em que vivemos.

Ler Borda Infinita é interagir com um poeta eclético e inquieto, crítico dos limites do

racionalismo empírico e que tem na evolução pessoal e na aproximação com o sagrado duas marcas centrais de sua trajetória de vida e poesia.